segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Vaca Estrela e Boi Fubá

Patativa do Assaré

                                                Composição: Patativa do Assaré
Seu doutor me dê licença pra minha história contar.
Hoje eu tô na terra estranha, é bem triste o meu penar
Mas já fui muito feliz vivendo no meu lugar.
Eu tinha cavalo bom e gostava de campear.
E todo dia aboiava na porteira do curral.

Ê ê ê ê la a a a a ê ê ê ê Vaca Estrela,
ô ô ô ô Boi Fubá.

Eu sou filho do Nordeste , não nego meu naturá
Mas uma seca medonha me tangeu de lá pra cá
Lá eu tinha o meu gadinho, num é bom nem imaginar,

Minha linda Vaca Estrela e o meu belo Boi Fubá
Quando era de tardezinha eu começava a aboiar

Ê ê ê ê la a a a a ê ê ê ê Vaca Estrela,
ô ô ô ô Boi Fubá.

Aquela seca medonha fez tudo se atrapalhar,
Não nasceu capim no campo para o gado sustentar
O sertão esturricou, fez os açude secar
Morreu minha Vaca Estrela, já acabou meu Boi Fubá
Perdi tudo quanto tinha, nunca mais pude aboiar

Ê ê ê ê la a a a a ê ê ê ê Vaca Estrela,
ô ô ô ô Boi Fubá.

Hoje nas terra do sul, longe do torrão natá
Quando eu vejo em minha frente uma boiada passar,
As água corre dos olho, começo logo a chorá
Lembro a minha Vaca Estrela e o meu lindo Boi Fubá
Com saudade do Nordeste, dá vontade de aboiar

Ê ê ê ê la a a a a ê ê ê ê Vaca Estrela,
ô ô ô ô Boi Fubá.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

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                                               Patativa do Assaré e seus
                                               90 verões de gorjeio poético

 As penas plúmbeas, as asas e cauda pretas da patativa, pássaro de canto enternecedor que habita as caatingas e matas do Nordeste brasileiro, batizaram poeta Antônio Gonçalves da Silva, conhecido em todo  o  Brasil como Patativa do Assaré,  referência ao município que nasceu.  Analfabeto "sem saber  as letra onde mora ", como  diz num  de seus poemas, sua projeção em todo o Brasil se iniciou na década de 50, a partir da regravação de "Triste Partida",  toada de retirante gravada por Luiz Gonzaga. Filho do agricultor Pedro Gonçalves da Silva e de Maria Pereira da Silva,  Patativa do Assaré veio ao mundo no  dia 9 de março  de 1909. Criado  num  ambiente de roça, na Serra de Santana, próximo a Assaré , seu  pai  morrera  quando tinha apenas oito anos legando aos seus   filhos  Antônio, José,  Pedro, Joaquim, e Maria  o ofício da enxada,  "arrastar  cobra  pros pés" ,  como se diz  no sertão.
A sua vocação de poeta,  cantador  da existência e cronista das mazelas do  mundo despertou cedo, aos cinco  anos já exercitava seu versejar. A mesma infância que lhe testemunhou os primeiros versos presenciaria a perda da visão  direita,  em  decorrência  de uma doença, segundo ele,  chamada "mal  d'olhos".
Sua verve poética serviu  vassala a denunciar injustiças sociais, propagando sempre a consciência e a perseverança do  povo nordestino que sobrevive e dá sinais de bravura ao resistir ao  condições climáticas e políticas desfavoráveis. A esse fato se refere a estrofe da música Cabra da Peste
"Eu  sou de uma terra que o  povo padece
Mas não esmorece e procura vencer.
Da terra querida,  que a linda cabocla

De riso na boca zomba  no sofrê

Não  nego meu  sangue, não nego  meu nome.
Olho para a fome ,  pergunto: que há  ?
Eu  sou  brasileiro,  filho do Nordeste,
Sou  cabra da Peste,  sou  do Ceará."
Embora tivesse facilidade para fazer versos desde menino,  a Patativa do município  de Assaré, no  Vale do Cariri, nunca quis ganhar a vida em cima do  seu dom de poeta. Mesmo tendo  feito shows pelo Sul do  país, quando  foi mostrado ao grande público por Fagner em finais da década de 70, até hoje se considera o  mesmo  camponês humilde  e mora no  mesmo torrão natal onde nasceu, no seu pedaço de terra na  Serra de Santana.
Do Vale do Cariri,  que com-
preende o Sul do  Ceará e parte Oeste da Paraíba, muitas famílias migraram para outras regiões do Brasil. A própria família  Gonçalves , da qual faz parte o poeta, se largou do  Crato , de Assaré e circunvizinhan-
ças para o Sul da Bahia,  em busca do  dinheiro fácil do  cacau, nas décadas de 20 e 30.
Seus livros foram publicados ocasionalmente por pesquisadores e músicos amigos e, parceria com pequenos selos tipográficos e hoje são relíquias para os colecionadores da literatura nordestina.                                                

Slide sobre a carreira de Patativa do Assaré

http://www.slideshare.net/klauddia/patativa-do-assar-1591026

VIDA E OBRA DE PATATIVA.

ASSISTA O VIDEO SOBRE A VIDA E A OBRA DO GRANDE PATATIVA
http://www.youtube.com/watch?v=enORYAB5DMM&p=DA1242FFB271F3AE&playnext=1&index=12

ENTRELINHAS- PATATIVA

VEJA O VIDEO SOBRE O CENTENARIO DE PATATIVA DO ASSARÉ
http://www.youtube.com/watch?v=5nhPJpBawLg&list=QL&feature=BF
                                 Caboclo Roceiro                         

Caboclo Roceiro, das plaga do Norte
Que vive sem sorte, sem terra e sem lar,
A tua desdita é tristonho que canto,
Se escuto o meu pranto me ponho a chorar

Ninguém te oferece um feliz lenitivo
És rude e cativo, não tens liberdade.
A roça é teu mundo e também tua escola.
Teu braço é a mola que move a cidade

De noite tu vives na tua palhoça
De dia na roça de enxada na mão
Julgando que Deus é um pai vingativo,
Não vês o motivo da tua opressão

Tu pensas, amigo, que a vida que levas
De dores e trevas debaixo da cruz
E as crides constantes, quais sinas e espadas
São penas mandadas por nosso Jesus

Tu és nesta vida o fiel penitente
Um pobre inocente no banco do réu.
Caboclo não guarda contigo esta crença
A tua sentença não parte do céu.

O mestre divino que é sábio profundo
Não faz neste mundo teu fardo infeliz
As tuas desgraças com tua desordem
Não nascem das ordens do eterno juiz

A lua se apaga sem ter empecilho,
O sol do seu brilho jamais te negou
Porém os ingratos, com ódio e com guerra,
Tomaram-te a terra que Deus te entregou

De noite tu vives na tua palhoça
De dia na roça , de enxada na mão
Caboclo roceiro, sem lar , sem abrigo,
Tu és meu amigo, tu és meu irmão.
O Burro
PATATIVA DO ASSARÉ 
                                   
Foto: Luiz Edmundo Alves
O BURRO

                      Vai ele a trote, pelo chão da serra,
                      Com a vista espantada e penetrante,
                      E ninguém nota em seu marchar volante,
                      A estupidez que este animal encerra.

                      Muitas vezes, manhoso, ele se emperra,
                      Sem dar uma passada para diante,
                      Outras vezes, pinota, revoltante,
                      E sacode o seu dono sobre a terra.

                      Mas contudo! Este bruto sem noção,
                      Que é capaz de fazer uma traição,
                      A quem quer que lhe venha na defesa,

                      É mais manso e tem mais inteligência
                      Do que o sábio que trata de ciência
                      E não crê no Senhor da Natureza
.