quinta-feira, 30 de setembro de 2010

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                                               Patativa do Assaré e seus
                                               90 verões de gorjeio poético

 As penas plúmbeas, as asas e cauda pretas da patativa, pássaro de canto enternecedor que habita as caatingas e matas do Nordeste brasileiro, batizaram poeta Antônio Gonçalves da Silva, conhecido em todo  o  Brasil como Patativa do Assaré,  referência ao município que nasceu.  Analfabeto "sem saber  as letra onde mora ", como  diz num  de seus poemas, sua projeção em todo o Brasil se iniciou na década de 50, a partir da regravação de "Triste Partida",  toada de retirante gravada por Luiz Gonzaga. Filho do agricultor Pedro Gonçalves da Silva e de Maria Pereira da Silva,  Patativa do Assaré veio ao mundo no  dia 9 de março  de 1909. Criado  num  ambiente de roça, na Serra de Santana, próximo a Assaré , seu  pai  morrera  quando tinha apenas oito anos legando aos seus   filhos  Antônio, José,  Pedro, Joaquim, e Maria  o ofício da enxada,  "arrastar  cobra  pros pés" ,  como se diz  no sertão.
A sua vocação de poeta,  cantador  da existência e cronista das mazelas do  mundo despertou cedo, aos cinco  anos já exercitava seu versejar. A mesma infância que lhe testemunhou os primeiros versos presenciaria a perda da visão  direita,  em  decorrência  de uma doença, segundo ele,  chamada "mal  d'olhos".
Sua verve poética serviu  vassala a denunciar injustiças sociais, propagando sempre a consciência e a perseverança do  povo nordestino que sobrevive e dá sinais de bravura ao resistir ao  condições climáticas e políticas desfavoráveis. A esse fato se refere a estrofe da música Cabra da Peste
"Eu  sou de uma terra que o  povo padece
Mas não esmorece e procura vencer.
Da terra querida,  que a linda cabocla

De riso na boca zomba  no sofrê

Não  nego meu  sangue, não nego  meu nome.
Olho para a fome ,  pergunto: que há  ?
Eu  sou  brasileiro,  filho do Nordeste,
Sou  cabra da Peste,  sou  do Ceará."
Embora tivesse facilidade para fazer versos desde menino,  a Patativa do município  de Assaré, no  Vale do Cariri, nunca quis ganhar a vida em cima do  seu dom de poeta. Mesmo tendo  feito shows pelo Sul do  país, quando  foi mostrado ao grande público por Fagner em finais da década de 70, até hoje se considera o  mesmo  camponês humilde  e mora no  mesmo torrão natal onde nasceu, no seu pedaço de terra na  Serra de Santana.
Do Vale do Cariri,  que com-
preende o Sul do  Ceará e parte Oeste da Paraíba, muitas famílias migraram para outras regiões do Brasil. A própria família  Gonçalves , da qual faz parte o poeta, se largou do  Crato , de Assaré e circunvizinhan-
ças para o Sul da Bahia,  em busca do  dinheiro fácil do  cacau, nas décadas de 20 e 30.
Seus livros foram publicados ocasionalmente por pesquisadores e músicos amigos e, parceria com pequenos selos tipográficos e hoje são relíquias para os colecionadores da literatura nordestina.                                                

Slide sobre a carreira de Patativa do Assaré

http://www.slideshare.net/klauddia/patativa-do-assar-1591026

VIDA E OBRA DE PATATIVA.

ASSISTA O VIDEO SOBRE A VIDA E A OBRA DO GRANDE PATATIVA
http://www.youtube.com/watch?v=enORYAB5DMM&p=DA1242FFB271F3AE&playnext=1&index=12

ENTRELINHAS- PATATIVA

VEJA O VIDEO SOBRE O CENTENARIO DE PATATIVA DO ASSARÉ
http://www.youtube.com/watch?v=5nhPJpBawLg&list=QL&feature=BF
                                 Caboclo Roceiro                         

Caboclo Roceiro, das plaga do Norte
Que vive sem sorte, sem terra e sem lar,
A tua desdita é tristonho que canto,
Se escuto o meu pranto me ponho a chorar

Ninguém te oferece um feliz lenitivo
És rude e cativo, não tens liberdade.
A roça é teu mundo e também tua escola.
Teu braço é a mola que move a cidade

De noite tu vives na tua palhoça
De dia na roça de enxada na mão
Julgando que Deus é um pai vingativo,
Não vês o motivo da tua opressão

Tu pensas, amigo, que a vida que levas
De dores e trevas debaixo da cruz
E as crides constantes, quais sinas e espadas
São penas mandadas por nosso Jesus

Tu és nesta vida o fiel penitente
Um pobre inocente no banco do réu.
Caboclo não guarda contigo esta crença
A tua sentença não parte do céu.

O mestre divino que é sábio profundo
Não faz neste mundo teu fardo infeliz
As tuas desgraças com tua desordem
Não nascem das ordens do eterno juiz

A lua se apaga sem ter empecilho,
O sol do seu brilho jamais te negou
Porém os ingratos, com ódio e com guerra,
Tomaram-te a terra que Deus te entregou

De noite tu vives na tua palhoça
De dia na roça , de enxada na mão
Caboclo roceiro, sem lar , sem abrigo,
Tu és meu amigo, tu és meu irmão.
O Burro
PATATIVA DO ASSARÉ 
                                   
Foto: Luiz Edmundo Alves
O BURRO

                      Vai ele a trote, pelo chão da serra,
                      Com a vista espantada e penetrante,
                      E ninguém nota em seu marchar volante,
                      A estupidez que este animal encerra.

                      Muitas vezes, manhoso, ele se emperra,
                      Sem dar uma passada para diante,
                      Outras vezes, pinota, revoltante,
                      E sacode o seu dono sobre a terra.

                      Mas contudo! Este bruto sem noção,
                      Que é capaz de fazer uma traição,
                      A quem quer que lhe venha na defesa,

                      É mais manso e tem mais inteligência
                      Do que o sábio que trata de ciência
                      E não crê no Senhor da Natureza
.
 




VÍDEO



 

Dona Belinha (esposa) e seus netos

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

A MORTE DE NANÃ

Assista ao video onde Patativa recita um de seus poemashttp://www.youtube.com/watch?v=cWD0YoweNy4&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=cWD0YoweNy4&feature=related

Homenagem a Patativa do Assaré

Assista ao vídeo Homenagem a Patativa do Assare

Entrevista com Patativa do Assaré

Assista o vídeo sobre Patativa do Assaré. Clique aqui
                                     A TRISTE PARTIDA                                    
Nós vamo a São Paulo, que a coisa tá feia; Por terras aleia, Nós vamo vagá Se o nosso destino não fô tão mesquinho Pro mêrmo cantinho Nós torna a vortá [...]Em riba do carro se junta a famia; Chegou o triste dia, Já vai viajá. A seca terrive, que tudo devora, Lhe bota pra fora Da terra natá. [...]Agora pensando segui ôtra tria, Chamando a famia, Começa a dizê: Eu vendo meu burro, meu jegue e o cavalo, Nós vamo a São Paulo Vivê ou morrê. [...]Faz pena o nortista, tão forte, tão bravo Vivê como escravo Nas terra do su.
Eu quero
[...]Quero a terra dividida para quem nela trabalha Eu quero agregar de dentro Do terrível sofrimento Do maldito cativeiro Quero ver o meu país Rico de tudo e feliz [...]Sobre uma reforma agrária Que venha por sua vez Libertar o camponês Da situação precária [ JB - 12/ABR/2003] ***

A Morte de Patativa do Assaré

"Setembro passou/Outubro e novembro/Já estamos em dezembro/Meu Deus, que é de nós?", perguntava o poeta popular.
São versos de A triste partida , toada pungente cuja gravação deixou o grande Luiz Gonzaga mais famoso do que já era. Seu autor, Antônio Gonçalves da Silva, conhecido e amado em todo o sertão do Cariri como Patativa do Assaré.
Patativa bateu asas, que nem a Asa branca, o Sabiá e a Zabelê, e ganhou as alturas.
Deve estar animando forró de pé-de-serra no céu, com Zé Dantas, Humberto Teixeira, Gonzagão, Jackson do Pandeiro e João do Vale.
Viveu 93 anos, forte feito a Acauã, bonito que nem o Assum Preto,
falante que só Zé Pretinho e cantante que nem Cego Aderaldo.
Era do cordel e do repente; com ele morre boa fatia da cultura nordestina (tá com o senhor agora, seu Ariano Suassuna).

Estudo? "Quem sabe que nada sabe é quem possui mais estudo/Eu amo a Deus
e ao mundo, me iludo e me desiludo/Pra não haver contratempo, vamos dar tempo ao tempo/Que o tempo resolve tudo".
Freqüentou a escola durante seis meses e aprendeu tudo o que precisava. O que não precisava, também.
Vendeu uma cabra por 16 mil réis e comprou uma viola. Foi ser cantador e
um dia cantou assim:
"Para ser poeta no sertão/Nem tem que ser professor/Basta ver no mês de maio/Um poema em cada galho/Um verso em cada flor". Está dito.
Luis Pimentel, jornalista e escritor Extraído do jornal O Dia, Terça, 16 de julho de 2002
***

terça-feira, 28 de setembro de 2010

                                                              A TRISTE PARTIDA
                                                                                 
                                                                               (PATATIVA DO ASSARÉ)
                                  

         Setembro passou, com oitubro e novembro
         Já tamo em dezembro.
         Meu Deus, que é de nós?
Assim fala o pobre do seco Nordeste,
Com medo da peste,
Da fome feroz.

A treze do mês ele fez a experiença,
Perdeu sua crença
Nas pedra de sá.
Mas nôta experiença com gosto se agarra,
Pensando na barra
Do alegre Natá.

Rompeu-se o Natá, porém barra não veio,
O só, bem vermeio,
Nasceu munto além.
Na copa da mata, buzina a cigarra,
Ninguém vê a barra,
Pois barra não tem.

Sem chuva na terra descamba janêro,
Depois, feverêro,
E o mêrmo verão
Entonce o rocêro, pensando consigo,
Diz: isso é castigo!
Não chove mais não!

Apela pra maço, que é o mês preferido
Do Santo querido,
Senhô São José.
Mas nada de chuva! tá tudo sem jeito,
Lhe foge do peito
O resto da fé.

Agora pensando segui ôtra tria,
Chamando a famia
Começa a dizê:
Eu vendo meu burro, meu jegue e o cavalo,
Nós vamo a São Palo
Vivê ou morrê.

Nós vamo a São Palo, que a coisa tá feia;
Por terras aleia
Nós vamo vagá.
Se o nosso destino não fô tão mesquinho,
Pro mêrmo cantinho
Nós torna a vortá.

E vende o seu burro, o jumento e o cavalo,
Inté mêrmo o galo
Vendêro também,
Pois logo aparece feliz fazendêro,
Por pôco dinhêro
Lhe compra o que tem.

Em riba do carro se junta a famia;
Chegou o triste dia,
Já vai viajá.
A seca terrive, que tudo devora,
Lhe bota pra fora
Da terra natá.

O carro já corre no topo da serra.
Oiando pra terra,
Seu berço, seu lá,
Aquele nortista, partido de pena,
De longe inda acena:
Adeus, Ceará!

No dia seguinte, já tudo enfadado,
E o carro embalado,
Veloz a corrê,
Tão triste, o coitado, falando saudoso,
Um fio choroso
Escrama, a dizê:

- De pena e sodade, papai, sei que morro!
Meu pobre cachorro,
Quem dá de comê?
Já ôto pergunta: - Mãezinha, e meu gato?
Com fome, sem trato,
Mimi vai morrê!

E a linda pequena, tremendo de medo:
- Mamãe, meus brinquedo!
Meu pé de fulô!
Meu pé de rosêra, coitado, ele seca!
E a minha boneca
Também lá ficou.

E assim vão dexando, com choro e gemido,
Do berço querido
O céu lindo e azu.
Os pai, pesaroso, nos fio pensando,
E o carro rodando
Na estrada do Su.

Chegaro em São Paulo - sem cobre, quebrado.
O pobre, acanhado,
Percura um patrão.
Só vê cara estranha, da mais feia gente,
Tudo é diferente
Do caro torrão.

Trabaia dois ano, três ano e mais ano,
E sempre no prano
De um dia inda vim.
Mas nunca ele pode, só veve devendo,
E assim vai sofrendo
Tormento sem fim.

Se arguma notícia das banda do Norte
Tem ele por sorte
O gosto de uvi,
Lhe bate no peito sodade de móio,
E as água dos óio
Começa a caí.

Do mundo afastado, sofrendo desprezo,
Ali veve preso,
Devendo ao patrão.
O tempo rolando, vai dia vem dia,
E aquela famia
Não vorta mais não!

Distante da terra tão seca mas boa,
Exposto à garoa,
À lama e ao paú,
Faz pena o nortista, tão forte, tão bravo,
Vivê como escravo
Nas terra do su.

BIOGRAFIA PATATIVA DO ASSARÉ

 Dedicou sua vida a produção de cultura popular (voltada para o povo marginalizado e oprimido do sertão nordestino). Com uma linguagem simples, porém poética, destacou-se como compositor, improvisador e poeta. Produziu também literatura de cordel, porém nunca se considerou um cordelista.

Sua vida na infância foi marcada por momentos difíceis. Nasceu numa família de agricultores pobres e perdeu a visão de um olho. O pai morreu quando tinha oito anos de idade. A partir deste momento começou a trabalhar na roça para ajudar no sustento da família.

Foi estudar numa escola local com doze anos de idade, porém ficou poucos meses nos bancos escolares
Ganhou o apelido de Patativa, uma alusão ao pássaro de lindo canto, quando tinha vinte anos de idade. Nesta época, começou a viajar por algumas cidades nordestinas para se apresentou como violeiro. Cantou também diversas vezes na rádio Araripe.

No ano de 1956, escreveu seu primeiro livro de poesias “Inspiração Nordestina”. Com muita criatividade, retratou aspectos culturais importantes do homem simples do Nordeste. Após este livro, escreveu outros que também fizeram muito sucesso. Ganhou vários prêmios e títulos por suas obras.

Patativa do Assaré faleceu no dia 8 de julho de 2002 em sua cidade natal
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segunda-feira, 20 de setembro de 2010

CENTENÁRIO DE PATATIVA DO ASSARÉ


 

Considerado um dos mais importantes representantes da cultura popular nordestina, Antônio Gonçalves da Silva, pseudônimo, Patativa do Assaré, nasceu em 5 de março de 1909, na cidade de Assaré (estado do Ceará), e ontem completaria 100 anos.


Patativa dedicou sua vida e arte a produção de cultura popular, voltada para o povo marginalizado e oprimido do sertão nordestino. Com uma linguagem simples, porém poética, destacou-se como compositor, improvisador e poeta. Produziu também literatura de cordel, porém nunca se considerou um cordelista.