Nós vamo a São Paulo, que a coisa tá feia; Por terras aleia, Nós vamo vagá Se o nosso destino não fô tão mesquinho Pro mêrmo cantinho Nós torna a vortá [...]Em riba do carro se junta a famia; Chegou o triste dia, Já vai viajá. A seca terrive, que tudo devora, Lhe bota pra fora Da terra natá. [...]Agora pensando segui ôtra tria, Chamando a famia, Começa a dizê: Eu vendo meu burro, meu jegue e o cavalo, Nós vamo a São Paulo Vivê ou morrê. [...]Faz pena o nortista, tão forte, tão bravo Vivê como escravo Nas terra do su.
Eu quero
[...]Quero a terra dividida para quem nela trabalha Eu quero agregar de dentro Do terrível sofrimento Do maldito cativeiro Quero ver o meu país Rico de tudo e feliz [...]Sobre uma reforma agrária Que venha por sua vez Libertar o camponês Da situação precária [ JB - 12/ABR/2003] ***
A Morte de Patativa do Assaré
"Setembro passou/Outubro e novembro/Já estamos em dezembro/Meu Deus, que é de nós?", perguntava o poeta popular.
São versos de A triste partida , toada pungente cuja gravação deixou o grande Luiz Gonzaga mais famoso do que já era. Seu autor, Antônio Gonçalves da Silva, conhecido e amado em todo o sertão do Cariri como Patativa do Assaré.
Patativa bateu asas, que nem a Asa branca, o Sabiá e a Zabelê, e ganhou as alturas.
Deve estar animando forró de pé-de-serra no céu, com Zé Dantas, Humberto Teixeira, Gonzagão, Jackson do Pandeiro e João do Vale.
Viveu 93 anos, forte feito a Acauã, bonito que nem o Assum Preto,
falante que só Zé Pretinho e cantante que nem Cego Aderaldo.
Era do cordel e do repente; com ele morre boa fatia da cultura nordestina (tá com o senhor agora, seu Ariano Suassuna).
Estudo? "Quem sabe que nada sabe é quem possui mais estudo/Eu amo a Deus
e ao mundo, me iludo e me desiludo/Pra não haver contratempo, vamos dar tempo ao tempo/Que o tempo resolve tudo".
Freqüentou a escola durante seis meses e aprendeu tudo o que precisava. O que não precisava, também.
Vendeu uma cabra por 16 mil réis e comprou uma viola. Foi ser cantador e
um dia cantou assim:
"Para ser poeta no sertão/Nem tem que ser professor/Basta ver no mês de maio/Um poema em cada galho/Um verso em cada flor". Está dito.
Luis Pimentel, jornalista e escritor Extraído do jornal O Dia, Terça, 16 de julho de 2002
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